No último mês de 2024, a Comissão de Cultura e Extensão do IQUSP anunciou a Olimpíada de Química do Estado de São Paulo (OQSP) como atividade vencedora do Prêmio de Excelência em Cultura e Extensão Universitária “Prof. Dr. José Atílio Vanin”, na categoria de ‘Atividade de Extensão’. Organizada pela Associação Brasileira de Química (ABQ), a Olimpíada tem como missão despertar e estimular o interesse de alunos do Ensino Médio pela Química.
O prêmio presta homenagem ao já falecido químico José Atílio Vanin – professor do Instituto de Química da USP e membro fundador da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), também conhecido por coordenar inúmeras atividades de extensão ao longo de sua carreira. Tem como objetivo valorizar o pilar da Extensão Universitária e as iniciativas e membros do IQ que tiveram uma relevante contribuição para essa área.
A OQSP
A OQSP é uma olimpíada para alunos do Ensino Médio e talentos especiais do Ensino Fundamental do Estado de São Paulo. Constituída por duas fases, a primeira consiste em uma redação, cujo tema varia a cada edição, enquanto a segunda é uma prova de conhecimento e raciocínio que acontece no próprio Instituto de Química.
Criada em meados dos anos 90 pelo professor do IQ e membro da diretoria da ABQ, Ivano Gutz, a OQSP é referência entre as atividades de extensão, reconhecida como um mecanismo de expansão e inclusão do ensino. Busca não só identificar estudantes talentosos e prepará-los para outras modalidades de olimpíadas, como também incentivar a juventude a prosseguir a escolarização em nível superior, além de estimular a escolha por carreiras científicas.
Como funciona a OQSP?
A Olimpíada mantém a seleção das melhores redações como principal forma de ingresso para a segunda etapa; no entanto, na última edição foram adicionadas outras 5 modalidades de primeira fase. Mauro Bertotti, professor do IQ e atual diretor da ABQ, explica a mudança: “quando assumi o cargo há 3 anos, junto à gestão atual, demos sequência ao projeto original, mas percebemos que poderíamos ampliar um pouco. Havia uma certa reclamação sobre a redação cobrar pouca química; então, no ano passado começamos a oferecer uma prova de questões objetivas como opção de primeira fase, além de outras vias provenientes de parcerias”.
A prova trata-se da Seletiva Paulista Geral, que garante 100 vagas na segunda etapa. Além desta, em 2025 haverá também uma prova paralela, em parceria com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC), exclusiva para alunos de escolas públicas. “Percebemos que nas premiações predominavam alunos de instituições particulares. Assim, com esse processo à parte, 40 vagas da segunda fase já serão reservadas para alunos de escolas públicas. E estes, independentemente do seu desempenho na fase final, vão ganhar uma medalha”, explica o professor.
Também há vagas para 20 treineiros da FUVEST 2025 inscritos nas carreiras de Exatas ou Biológicas com melhor desempenho nas questões de Química, além de 12 vagas resultantes das parcerias com o Torneio Virtual de Química (TVQ) da Unicamp e com a Olimpíada Regional de Química (ORQ) da USP de Ribeirão Preto. No total, somam-se pouco mais de 300 vagas na etapa final – o dobro de alunos que participavam até alguns anos atrás.
A segunda fase da Olimpíada ocorre sempre em um sábado das primeiras semanas de junho, no Instituto de Química da USP. Enquanto os finalistas fazem as provas, seus responsáveis e demais familiares participam de atividades no próprio local. Depois, é oferecido um almoço aos estudantes e acompanhantes, que posteriormente participam de palestras e um tour pelo IQ enquanto as provas são corrigidas. O dia é finalizado com uma premiação dos melhores classificados – uma sessão para os participantes do 1º e 2º anos do EM e outra para aqueles do 3º ano. “Esse é um dia de imersão na Química, o Instituto ganha visibilidade junto com a Olimpíada. E tudo isso só é possível graças aos patrocinadores, para bancarmos os custos tanto do dia como de toda a preparação e divulgação – além da Comissão de Cultura e Extensão, que nos apoia muito”, explica Mauro.
Vanessa Nanami Ohara, ingressante de 2024 no IQ, conquistou a medalha de ouro na edição de 2023 da OQSP. Ela conta que a Olimpíada representou uma oportunidade de aprofundar e testar seu conhecimento: “a sensação de ser premiada e estar no auditório com meus amigos e professores foi incomparável, fico muito feliz por ter feito parte desse evento. O evento em si também consolidou minha escolha pelo curso e pela USP – após a prova, consegui conhecer mais sobre o Instituto, conversar com professores e alunos e ter uma experiência inicial do curso.”
A OQSP também serve como porta de entrada para a Olimpíada Brasileira de Química (OBQ) – competição de conhecimento que pode ser utilizada como forma de ingresso na Universidade de São Paulo. Esta é uma modalidade adotada pela USP desde 2019, com vagas específicas destinadas a estudantes classificados em diferentes olimpíadas acadêmicas nacionais e internacionais.
Maior e mais inclusiva
A Olimpíada de Química não foi escolhida ao acaso como atividade de cultura e extensão vencedora do Prêmio Vanin em 2024. Buscando maior inclusão, tanto socioeconômica como de gênero, algumas medidas foram recentemente implantadas pela organização da competição. Desde a edição de 2023, por exemplo, é oferecido um curso online de Química Geral para alunos da rede pública de ensino que são classificados para a segunda fase. As aulas são lecionadas por estudantes de pós-graduação do próprio Instituto, que gravam lições sobre os assuntos cobrados na prova. Depois, os participantes têm a oportunidade de tirar dúvidas e conversar virtualmente com os discentes da pós. “É uma maneira de ajudar não só a estudar Química, que é o objetivo principal, mas também dar a oportunidade do pós-graduando mostrar a USP para esses alunos da escola pública. Permitir um contato mais próximo, poder explicar como vir para a cá é bom, como funciona o ingresso e conhecer melhor [esses detalhes]”, conta Mauro.
Outro ponto observado pela coordenação da OQSP era a falta de representação feminina nas premiações. Em busca de reparar essa baixa representatividade e graças a uma parceria com a empresa Agilent, na edição de 2025 haverá uma premiação especial voltada só para as meninas com melhor desempenho. Serão patrocinados 10 prêmios nessa categoria, por conta da relevância do tema.
Por fim, Mauro fala sobre a honra de ganhar o Prêmio Vanin dentre as várias atividades de extensão que ocorrem no IQUSP. “Cada evento desse tem seu valor – e imagino que a comissão julgou a Olimpíada com uma maior repercussão. Mas eu tenho orgulho não só disso, como da própria criação desse prêmio, pois existem na Química e na USP inúmeras homenagens a pesquisadores, mas essa iniciativa mostra que a extensão também é uma atividade relevante na Universidade. Que as pessoas que se dedicam a isso devem ser valorizadas”.