Atualizado em 22/12/2023 por Comunicação IQUSP
[Imagem: Aldrey Olegario/Comunicação IQUSP]
No dia 7 de novembro, aconteceu no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQUSP) a entrega do Prêmio Rheinboldt-Hauptmann 2023 ao Prof. Dr. Lauro Tatsuo Kubota, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Trata-se de uma iniciativa do Instituto para reconhecer e homenagear os trabalhos de pesquisadores de destaque da química e áreas correlatas. Realizado pela primeira vez em 1986, o prêmio já agraciou mais de 30 cientistas indicados por sua excelência no âmbito científico e acadêmico.
Junto ao Prof. Kubota, a mesa de solenidade foi composta pelo Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira, diretor do IQUSP; o Prof. Dr. Shaker Chuck Farah, vice-diretor do IQUSP; e a Profa. Dra. Susana Inés Cordoba de Torresi, pró-reitora adjunta de Pesquisa e Inovação da USP. Na fala de apresentação, Oliveira destacou a importância da realização do prêmio como uma forma de agradecimento à dedicação dos pesquisadores internos e externos ao IQ e relembrou a última homenageada, Helena Bonciani Nader, biomédica e docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
A cerimônia, conduzida por Mônica Pacheco (Assistência Acadêmica), recebeu também o Prof. Dr. Lucio Angnes (IQUSP), que relembrou a ampla trajetória de Kubota — como a colaboração do docente com mais de 800 pesquisadores em diversas publicações ao longo de sua carreira. Entre o público, ainda estiveram presentes membros da Comunidade IQUSP, familiares e autoridades da Universidade de São Paulo, Fapesp, Unicamp e do Conselho Regional de Química.
Ao agradecer a homenagem, Kubota reforçou que o “prêmio não é uma conquista individual” e relembrou o papel dos familiares e alunos em sua carreira. Também agradeceu ao Instituto de Química da Unicamp e aos Profs. Drs. Graciliano de Oliveira Neto, pelo incentivo e importância para sua ida à Unicamp, e Yoshitaka Gushikem, orientador de doutorado de Kubota, a quem reconheceu a contribuição para a sua formação. Em entrevista ao IQUSP, o pesquisador compartilhou um pouco sobre como foi receber a notícia da homenagem:
“No fundo, receber um reconhecimento de tudo aquilo que a gente faz, certamente me deixa muito feliz em saber que aquilo que foi feito durante todo esse tempo foi reconhecido. Uma questão que acho muito importante e não posso deixar de comentar é que, quando eu recebi a notícia de que ia ser agraciado pelo prêmio, eu fiquei muito contente e fiquei me perguntando por que eu. Conhecendo várias pessoas da área de química e correlatas à química, sempre vejo pessoas de muito sucesso, que foram realmente grandes profissionais. E eu ser escolhido, entre todos esses que ainda não receberam, eu fico realmente muito honrado e sei que tem muitas outras pessoas que teriam todo o mérito de estar sendo agraciadas também. Realmente, fico muito agradecido a todo o Instituto de Química da USP de São Paulo, por ter feito a minha seleção, minha escolha e ter propiciado eu ter recebido essa honraria, que é realmente muito importante e que eu valorizo muito”, disse Lauro Kubota.
Como parte da celebração, ao final da solenidade, o(a) pesquisador(a) homenageado(a) realiza uma palestra sobre sua área de pesquisa. “O papel das configurações de eletrodos modificados na evolução de (bio)sensores eletroquímicos” foi o tema do seminário ministrado por Lauro Kubota neste ano.
O pesquisador contou que o interesse em direcionar seus estudos à área de sensores e biossensores se deu na pós-graduação, durante uma disciplina de mestrado sobre métodos eletroquímicos de análise. “A partir de então, eu vi que a ferramenta de eletroquímica tinha um potencial muito grande para explorar o estudo de diferentes tipos de materiais”. O docente explica que, nesse período, ele trabalhava com materiais sólidos inorgânicos, na utilização desses enquanto adsorventes de espécies de substâncias. Ao ingressar no doutorado, percebeu nesses materiais a possibilidade de uso na construção de eletrodos para desenvolver os sensores. “Acabei propondo para o meu orientador de doutorado fazer a utilização desses materiais sólidos inorgânicos para construir os sensores eletroquímicos, o que até então não tinha sido feito. A gente começou a fazer os sensores, utilizar esses materiais inorgânicos e fomos os pioneiros no mundo em utilizar esse material para eletroquímica. Começaram a surtir vários bons resultados e que repercutiram bastante na comunidade científica”, diz Kubota.
Durante a palestra, centrada no tema dos biossensores, Lauro trouxe um panorama do desenvolvimento em pesquisa na busca por seletividade e apontou áreas que tendem a evoluir — como a de impressão molecular, utilizada para fazer os sensores. Neste caso, ele destacou o MIP — Molecularly Imprinted Polymer ou Polímero de Impressão Molecular — como um dos campos de evolução dos próximos anos. “Os polímeros de impressão molecular são fantásticos, porque você pode planejar e desenhar o polímero da forma como você quer, para a substância que você quer. Então, você pode desenvolver sensores confiáveis, que vão determinar somente a espécie que você tem interesse e outras espécies não vão interferir no seu dispositivo”, explica ele.
Funciona da seguinte forma: uma vez que se tem o conhecimento químico a respeito da espécie que será determinada em uma amostragem de sangue, soro ou outros tipos de amostras, por exemplo, a partir dos MIPs, pode-se desenvolver um polímero que reconheça, de forma seletiva, somente a espécie de interesse. E esses polímeros, em dispositivos como sensores, possibilitam a quantificação dessa determinada substância. “Esses polímeros vão poder ser desenhados para funcionar como se fossem anticorpos ou enzimas, mas com a vantagem de que não vai ter a parte biológica, a parte protéica, que não tem estabilidade. Então, esses polímeros poderão ser utilizados nesses dispositivos por um longo tempo de vida. O que é diferente de colocar uma enzima ou um anticorpo, que tem a parte biológica que acaba deteriorando, que não tem estabilidade e você acaba não podendo utilizar por um longo período de tempo, restringindo também a possibilidade de comercialização”, explica.
A respeito dos desafios dos biossensores, do ponto de vista comercial, a questão da duração é destacada pelo pesquisador como um ponto central — por isso a importância dos MIPs. “Os polímeros de impressão molecular estão vindo no sentido de aumentar, e muito, o tempo de vida. A grande restrição que existe hoje dos biossensores ainda não serem tão difundidos e utilizados é devido à instabilidade que a gente tem nesses componentes biológicos. E como agora tem essa possibilidade de aumentar o tempo de vida, fatalmente você vai conseguir tornar esses dispositivos mais atrativos do ponto de vista comercial”.
Outros pontos levantados pelo pesquisador na palestra foram a respeito da função do papel nos dispositivos eletroquímicos e também sobre os nanomateriais. Kubota finalizou a exposição comentando a sua perspectiva sobre a busca por sensores e biossensores mais estáveis e sensíveis e a importância de tornar estes dispositivos mais acessíveis. “Esse é um ponto muito importante, porque esses sensores e biossensores, a gente tem desenvolvido com a preocupação de que qualquer leigo, qualquer pessoa possa utilizar. Seja ela uma pessoa comum, um agricultor, seja ela alguma pessoa responsável pela questão ambiental. O que a gente quer ao desenvolver esses dispositivos é que qualquer pessoa possa fazer a análise e ter ali o resultado, em tempo imediato ou no menor tempo possível. A tendência agora é que a própria pessoa possa fazer a análise e, se ela não souber tomar a decisão, que o resultado da análise possa ser comunicado diretamente para quem vai tomar a decisão. Por exemplo, que possa ser enviado em tempo real para o médico ou para o agricultor”, aponta o pesquisador.
[Imagem: Aldrey Olegario/Comunicação IQUSP]
Por Aldrey Olegario | Comunicação IQUSP