Na última segunda-feira de abril (28), o Instituto de Química da USP recebeu como convidada a Dra. Carlismari Grundmann, formada em química pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP-SP) e atual pesquisadora de pós-doutorado na Universidade da Califórnia de Santa Cruz (UCSC). Ela apresentou uma palestra sobre a metabolômica espacial de interação bactéria-fungo no microbioma do queijo – com direito até a uma degustação do laticínio ao longo do evento.
Grundmann atua no laboratório da professora Laura Sanchez, na UCSC, onde avalia os produtos metabólicos gerados pelas interações bacterianas-fúngicas em cascas de queijos. Na pesquisa, ela faz uso de técnicas como a espectrometria de massas por imagem – um dos assuntos abordados em sua visita ao IQ.
A pós-doutoranda iniciou sua fala com uma explicação sobre como a interação dos microrganismos impacta o ambiente no qual eles coexistem, assim como os efeitos de diferentes reações no resultado do queijo. “Podemos promover procedimentos industriais, como processos fermentativos. (...) Os microrganismos fazem parte desse processo para a obtenção do produto final, que produz um tipo específico de queijo”, conta ela.
O estudo desenvolvido por Grundmann – em parceria com a Universidade de Toulouse e com o apoio do pesquisador Christopher Tomo – aborda a questão da interação de fungos indesejados com as bactérias presentes na casca do queijo, que se forma durante seu processo de maturação. O queijo depende de uma ação específica no biofilme microbiano (casca do queijo), em condições corretas de umidade e temperatura, para a sua fabricação adequada. Intrusos nesta “receita” podem não só alterar gosto e textura, como também representar risco à saúde humana ao serem consumidos.
Diversos fungos produzem moléculas a partir de um metabolismo secundário – chamadas de micotoxinas – que podem ser tóxicas quando ingeridas e que, por isso, precisam ser reguladas ou proibidas em alimentos. Como exemplo, Grundmann apresentou o fungo Aspergillus westerdijkiae e os efeitos da sua interação com as bactérias do queijo, os quais foram analisados em profundidade em sua pesquisa. “A gente descobriu que realmente existia uma quantidade grande de genes, tanto com expressão aumentada quanto reduzida, na presença do fungo invasor. Isto representa um real impacto no metabolismo das bactérias presentes naquele ambiente”.
A pesquisadora explicou ao público que grande parte do seu estudo e coleta de dados foi feita a partir de um processamento de imagens que utiliza-se do MALDI-MSI (Matrix Assisted Laser Desorption – Mass Spectrometry Imaging) para monitorar a espectroscopia de massas. “Era minha primeira vez lidando com MALDI. Sempre sonhei em trabalhar com imagens, mas não sabia que a análise de dados poderia ser tão complexa”. Ela comentou também sobre o desafio de se trabalhar com dados de fungos – e que, por isso, tomou a decisão de focar nas alterações das reações das bactérias diante da interação. Assim, foram selecionados os resultados mais promissores, em termos de moléculas fúngicas associadas ao comportamento de deleção das bactérias do microbioma, para posterior análise.
Por Isabella Gargano | Comunicação IQUSP